Entre a fé e a fraqueza: Reino de Judá (aprox. 931-587/6 a.E.C.)


Este é o volume Nº 7 (B)Entre a fé e a fraqueza(/B) mostra a realidade do reino de Judá, ao sul da terra de Israel. Embora mais pobre, subsistiu mais tempo que o reino de Israel. Conhecemos sua história por meio dos personagens mais importantes, reis e profetas, e dos escritos desse período.

Cf. SOARES, Paulo Sérgio. Entre a fé e a fraqueza: Reino de Judá (aprox. 931-587/6 a.E.C.). São Paulo: Paulinas, 2002. p.61-63. (Visão global, 7).

Percorrendo a caminhada do Reino de Judá, nos seus 345 anos de existência, pudemos perceber alguns pontos marcantes. O que mais nos chamou a atenção foi o dano que causou ao povo a sacralização do poder, de um lado, e a manipulação da religião, de outro. Fiado em suas instituições, que gozavam da bênção e proteção do Senhor, o povo de Judá e seus líderes se desviaram a passos largos do projeto inicial proposto por Deus para seu povo.

Percebemos também que, quando o ritualismo toma o lugar da sinceridade do coração no culto a Deus, o resultado é a desvirtuação do sentido do próprio culto. Este passa a ser uma espécie de “máscara” que se coloca somente quando se vai prestar culto. No dia-a-dia, na vida real, aparece a verdadeira face. O ritualismo acentuado faz também o povo esquecer as exigências éticas da própria religião. Sem praticar a justiça, resumo de todas as exigências possíveis nas relações entre os membros da sociedade, o povo e seus líderes foram transformando a religião numa ideologia legitimadora do poder opressor, o culto numa bajulação da divindade, o Templo num fetiche com poderes mágicos. O próprio Deus ficou reduzido a um ídolo, um baal a mais.

Os reis de Judá, por via de regra, usufruiram desse sistema que unia a Religião e o Estado, com maior ou menor manipulação da boa-fé do povo. Alguns se esforçaram por melhorar as coisas, promovendo algumas reformas. Mas, como toda reforma nunca mexe no que é essencial (as estruturas), o esforço foi inútil para evitar a catástrofe nacional.

As lições que podemos tirar da história de Judá são muitas. Neste estudo procuramos ressaltar a relação entre o Estado, representado pelo rei, e a Religião, representada pelo Templo. A monarquia nascera em Israel já marcada pela dicotomia: o Senhor era o único rei, mas o povo queria um rei terreno. O rei estava entre o Senhor e o povo, mas não poderia se arvorar em único intermediário e intérprete da vontade divina. Teria de se submeter à voz crítica dos profetas. Seria o guardião da religião, enquanto zelador dos preceitos emanados por Deus, mas estaria submisso a eles, nunca acima deles.

Pelo visto, nenhum rei em Judá chegou a realizar a síntese perfeita entre essas dicotomias. De um modo ou de outro, todos eles, mesmo os bons reformadores, como Ezequias e Josias, viveram a relação do Estado com a religião como um “casamento em regime de comunhão total de bens”, mas com os papéis bem definidos: os “bens” ficam com o “marido” (o Estado). Os “bens” são o povo, a nação, tudo o que ele tem e produz. O Estado se utiliza do trabalho da “esposa” (a Religião), para legitimar o seu domínio e a posse dos “bens”.

Neutralizando, pois, as exigências éticas da religião javista, o Estado monárquico de Judá aniquilou a única possibilidade de construir uma sociedade segundo o projeto do Deus da vida, baseada na justiça. O destino de uma sociedade sem ética é a destruição total, para dano de todos, rei e povo. Foi o que mostrou, infelizmente, a experiência de Judá.

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