Durante sua primeira missa pública, realizada nesta quarta-feira (24)
no Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, o
Papa Francisco
pediu que os pastores do povo de Deus, pais e educadores sejam
responsáveis por transmitir aos jovens valores para construir “um país e
um mundo mais justo, solidário e fraterno” a partir de posturas
“simples”.
Francisco também pediu que a juventude seja encorajada e considerada um
“motor potente para a Igreja e para a sociedade”. O Papa fica no país
até domingo (28), onde participa dos atos principais da Jornada Mundial
da Juventude.
Leia a íntegra do discurso a seguir:
"Venerados irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário
de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo
de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a
Nossa Senhora o meu ministério.
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da
Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo
latino-americano.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens,
acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção
de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a
sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes
sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual
de um povo, a memória de um povo"
Papa Francisco
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos
atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da
América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato
belíssimo: ver como os bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro
com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em
certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham
diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi
um grande momento de vida de Igreja.
E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu
justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples
dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca
Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de
Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai
em missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o
Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e
educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus,
aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que
farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário
e fraterno.
Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas:
conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.
Conservar a esperança: A segunda leitura da missa apresenta uma cena
dramática: uma mulher, figura de Maria e da Igreja, sendo perseguida por
um dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é
de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo.
Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas
comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que
sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em
quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé
como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no
coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa
desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos
corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele
não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É
verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos
jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar
de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o
prazer.
Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de
muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros.
Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma
visão positiva sobre a realidade.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes
no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo
melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles
não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos
aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a
memória de um povo.
Neste santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que
apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança,
fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais
profunda na fé cristã.
A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e
mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que,
mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história
deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem
conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo
inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera,
tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de
uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho
que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos
surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos
em Deus!
Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se
nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água
fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em
vinho novo de amizade com Ele.
A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na
esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos
oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser
testemunhas dessa alegria.
O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma
mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a
rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é
a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados.
O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece
num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados
de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se
“incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado.
Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe que sem
Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos,
fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o
que Ele vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que
Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de
Deus e cheios de alegria. Assim seja."
http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2013/07/veja-integra-da-homilia-do-papa-francisco-feita-na-missa-de-aparecida.html