Sentinela, em que ponto está a noite?

Artigo de Dom Fernando reaviva ânimo dos fiéis e clero para superar a pandemia

“Sentinela, em que ponto está a noite? Sentinela, em que ponto está a noite? A luz brilhará nas trevas e esta noite resplandecerá como o dia”
(antiga antífona oriental cantada no Sábado Santo, antes da Vigília Pascal ).
Meus muito amados filhos e filhas da nossa arquidiocese,
Da quarentena em que me encontro, por fazer parte do grupo de risco, vos escrevo com o coração dilacerado pelo sofrimento que estamos passando. As palavras acima, inspiradas na profecia de Isaías 21,11-12, parecem bem apropriadas para esse tempo que vivemos. Em que ponto está a noite? No momento, ninguém tem essa resposta. Tudo é imprevisível, como são imprevisíveis os nossos dias. O Coronavírus (COVID-19) está provocando uma crise que ninguém esperava e para a qual o mundo não estava preparado.
A ordem pública é a de evitar reuniões e cada um se isolar, por tempo indeterminado, até que o surto maior de contaminação se detenha. Sem dúvida, quem mais sofre como sempre são as pessoas mais pobres. Penso, especialmente, nos sem teto que vivem nas ruas das grandes cidades, os biscateiros e ambulantes que, em uma hora como essa, não têm como se defender e sobreviver.
É nesse contexto que como irmão e pastor, me dirijo a todos vocês. Nossa quaresma esse ano está sendo muito especial e nunca uma Campanha da Fraternidade foi tão expressiva como a deste ano de 2020 ao nos aconselhar a viver a experiência do Bom Samaritano e dando como modelo a nossa querida Santa Dulce dos Pobres: “Viu, teve compaixão e cuidou dele” (Lc.10,33-34). Sei que em uma guerra mundial, sobretudo a que vivemos contra um inimigo invisível, a tendência natural é cada um buscar defender a si próprio e os seus. Lembremo-nos, porém, que não podemos deixar de praticar o Evangelho que nos ensina: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo, 15,12).  Jesus nos amou dando sua vida por todos. E nós?
Que tudo isso nos sirva para nos recordar que a vida é realmente transitória e somente em Deus está a nossa segurança. Ninguém caia na tentação de querer responsabilizar a Deus por tudo o que está acontecendo. Precisamos sim, bater no peito e fazer um “mea culpa” entendendo que os pecados da humanidade contra a vida, humana, a vida animal e, sobretudo, contra a natureza, frutos do egoísmo e da ambição desenfreada, provocam reações naturais desta ordem, como já vimos acompanhando, cada vez mais frequentemente. Não precisa ser profeta para assegurar que, se nada for feito, o problema não vai parar por aí.
Que tudo isso sirva para a nossa conversão. Certamente, passada essa fase difícil, vamos valorizar mais a Eucaristia de que estamos sendo privados, a nossa convivência fraterna na Igreja, na família, no mundo do trabalho e na sociedade como um todo. Vamos, sobretudo, valorizar mais a presença de Deus em nossas vidas e entender que somente Ele nos poderá oferecer a verdadeira segurança que nem a irmã morte, como chamava São Francisco, poderá tirar.
Coragem, vamos sair dessa! Façamos a nossa parte unindo-nos em oração confiante, pessoal ou comunitariamente. Com certeza, o Deus que libertou o povo de Israel da escravidão do Egito, do dilúvio e manifestou-se vitorioso guerreiro nas batalhas, vai ouvir as nossas preces e vir em nosso auxílio.
Deus abençoe e dê serenidade a todos e todas.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo de Olinda e Recife
Recife, 20 de março de 2020.

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