Cartas de São Paulo - continuação


Atividade apostólica

Jesus, durante sua vida, se movimentou quase que exclusivamente dentro de uma pequena região, a Palestina. Poucas vezes ele esteve em terras que não pertenciam aos judeus. Falou do Reino semelhante ao grão de mostarda que cresce e abriga os pássaros (Lc 13,18-19). E pediu que os discípulos percorressem o mundo e anunciassem o Evangelho a todos (Mc 16,15).

Depois que se converteu, Paulo começou a anunciar o Evangelho aos judeus. Mas eles o perseguiam e lhe criavam uma série de obstáculos. Diante da rejeição do Evangelho por parte dos seus conacionais, ele se volta para os pagãos (At 13,44-49). Até o fim da vida, Paulo tem consciência de ter sido destinado a levar a Palavra de Deus aos pagãos, pois, em Cristo, o Pai chama todos à salvação. A esse projeto Paulo dá o nome de mistério, e ele é seu principal executor.

Mas não é fácil pôr em prática esse plano quando se trata de aplicá-lo a realidades diferentes daquelas que Jesus de Nazaré viveu. O próprio Paulo não conheceu pessoalmente Jesus. O que ele fez foi a experiência do Cristo ressuscitado. Portanto, ao anunciar o Evangelho aos pagãos, foi preciso adaptá-lo à mentalidade dos ouvintes, respondendo às preocupações que eles tinham, conservando o que era essencial e deixando de lado o que não era importante.

Pelo fato de não ter vivido com Jesus como os demais apóstolos, ele enfrentou sérias dificuldades. Alguns afirmavam: «Ele não é apóstolo, pois não viu o Senhor.» Paulo se defende, contando sua experiência com Cristo (Gl 1,12; 2Cor 12,1-4). Outros diziam: «Só quem andou com Jesus de Nazaré é que pode fundar comunidades.» A essa crítica ele responde, por exemplo, em 1Cor 9,2-3. Outros, ainda, afirmavam: «Ele realmente não é apóstolo. Pois, se fosse, teria a coragem de viver à custa da comunidade. Ele não é livre.» Paulo responde que, para ele, anunciar o Evangelho é uma obrigação (1Cor 9,15-17). Ele cumpre uma ordem. Por isso, não tem direito de ser sustentado por outros. Ele considerava muito perigoso unir pregação do Evangelho com dinheiro. Por isso, preferia ganhar o pão com o suor do rosto, e anunciar o Evangelho gratuitamente (cf. Fl 4,15-17), apesar de Jesus ter dito que o operário é digno do seu sustento (Mt 10,10).

Além disso, ele teve que lutar contra os falsos missionários (cf. 2Cor 10-12), que anunciavam um evangelho fácil, que fugiam da humilhação e da tribulação. Paulo não tem em mãos o Evangelho escrito. Ele o traz impresso na sua carne, marcada por toda sorte de sofrimento (1Cor 11,21-29), a ponto de estar crucificado com Cristo (Gl 2,19), trazendo em seu corpo as marcas da paixão de Jesus (2Cor 4,10; Gl 6,17), e completando, no seu corpo, o que falta das tribulações de Cristo (Cl 1,24). Assim ele pode dizer que já não é ele que vive, mas é Cristo que vive nele (Gl 2,20). É assim que ele anuncia o Evangelho.

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