COMO SUPERAR OS CONFLITOS NA COMUNIDADE
Corinto era uma rica cidade comercial, com mais de 500.000 habitantes, na maioria escravos. Nesse porto marítimo se acotovelava gente de todas as raças e religiões à procura de vida fácil e luxuosa, criando ambiente de imoralidade e ganância. A riqueza escandalosa de uma minoria estava ao lado da miséria de muitos. Surgiu, inclusive, uma expressão: «Viver à moda de Corinto», que significava viver no luxo e na orgia.
Paulo, entre os anos 50 e 52, permaneceu aí durante dezoito meses (At 18,1-18) e fundou uma comunidade cristã formada por pessoas da camada mais modesta da população (1Cor 1,26-28).
A primeira carta aos Coríntios foi escrita em Éfeso, provavelmente no ano 56. A comunidade já estava reproduzindo, de certa maneira, o ambiente vivido na cidade toda. Ela também estava dividida: os grupos brigavam entre si, cada um se apoiando na autoridade de algum pregador do Evangelho. Por isso, o primeiro objetivo de Paulo na carta é restabelecer a unidade, advertindo que o único líder é Cristo, e este não está dividido. Paulo aproveita da situação para traçar um retrato do verdadeiro agente de pastoral (1Cor 1-4). Depois, passa a denunciar os escândalos que pervadem a comunidade: incesto, julgamento em tribunais pagãos e a imoralidade, e vai elaborando uma teologia do corpo: este é o templo do Espírito Santo (1Cor 5-6).
Em seguida, responde a diversas perguntas formuladas pelos coríntios. Na primeira série, procura orientar os cristãos sobre os estados de vida (1Cor 7): matrimônio ou celibato? divórcio ou indissolubilidade? o que pensar da virgindade? como devem comportar-se os noivos? as viúvas podem se casar de novo? Em tudo isso, onde está a originalidade cristã? Ao responder sobre a questão da carne sacrificada aos ídolos (1Cor 8-10), ele coloca o fundamento da verdadeira liberdade cristã: o respeito aos outros.
A carta também apresenta normas para que haja ordem e autêntico culto cristão nas assembléias litúrgicas (1Cor 11-14): entra na debatida questão do véu das mulheres; denuncia as diferenças de classe nas celebrações eucarísticas, e aí é taxativo: Eucaristia sem amor fraterno é impossível. Salienta igualmente que os carismas que fervilham na comunidade só têm sentido quando estão a serviço dos irmãos e se estão subordinados ao dom maior, que é o amor.
Por fim (1Cor 15), citando exemplos da natureza e da próxima ressurreição de Cristo, demonstra que a ressurreição dos corpos é inquestionável: o cerne da fé é a certeza de que a vida vence a morte.