Nestes
últimos anos tem-se falado em Catequese Renovada e muitos pontos positivos
contribuíram para que ela assim fosse chamada. Percebemos que algumas propostas
da Catequese Renovada estão muito visíveis: o uso da Palavra de Deus, a
importância de ligar a fé com a vida, perceber e respeitar as situações dos
catequizandos tais (interesses, jeito de viver, idade, cultura...), a
preocupação em fazer uma catequese mais comprometida com a comunidade,
envolvimento da família, o uso de uma metodologia mais criativa, dinâmica...
O
documento Catequese Renovada (26), escrito em 1983, nos faz propostas arrojadas
e que ainda estamos por concretizar. Para muitos catequistas, pais, agentes,
padres, a catequese é ainda pensada:
• só para
crianças;
• voltada
para os sacramentos;
• para a
celebração dos sacramentos que muitas vezes é uma formatura, portanto, depois
disto é um adeus a todos os compromissos de fé e vida;
• os
encontros de catequese são pensados como uma “aula escolar”;
• o
encontro catequético é desligado da vida (problemas, exclusões, alegrias,
lutas, meios de comunicação...).
A nossa
preocupação é que se possa superar uma fé que apenas passa por um texto, ou
doutrina, e que, com os nossos catequizandos, se possa fazer uma verdadeira
experiência de Deus, vivenciada como processo e encarnada no dia-a-dia, na luta
por mais justiça e acolhendo a vida como maior dom de Deus.
Diz o
documento que a finalidade da catequese é a “maturidade da Fé, num compromisso
pessoal e comunitário de libertação integral” (CR 318). A maturidade da fé não
se faz de um dia para o outro. Ela tem início na família, contínua na
comunidade e acompanha a pessoa por toda a vida.
O
PRINCÍPIO DA INTERAÇÃO: “FÉ-VIDA”
Existem muitos métodos, isto é, muitas maneiras para se chegar a alcançar objetivos.
A catequese usa o princípio metodológico da interação. Na vida de todo dia usamos interações que produzem efeitos benéficos. Veja, por exemplo, o fermento, a água e o trigo ajuntados, misturados, interados, são capazes de produzir um pão capaz de matar a fome.
Na
catequese é preciso fazer interagir, isto é, misturar aquilo que é do campo de
fé (Bíblia, tradição, liturgia, doutrina, ensinamentos da Igreja...) com tudo
aquilo que é do campo da vida (acontecimentos, realidade, situações,
aspirações, clamores, fatos alegres e tristes...).
“A
interação é relacionamento mútuo e eficaz entre a experiência de vida e a
formulação da fé, entre a vivência atual e o dado da Tradição” (CR 113). O
conteúdo da catequese não é só doutrina, Bíblia, mas também a nossa vida.
Frei Bernardo dizia: O catequista precisa trazer numa mão o jornal e na outra a Palavra de Deus. Precisamos estar em contato com duas fontes: a Bíblia e a realidade humana. Este método tem por finalidade educar para Ação-Reflexão, assim como fez Jesus, que se preocupou de educar seus discípulos para uma reflexão, partindo da vida (pobres, crianças, doentes, excluídos...).
Frei Bernardo dizia: O catequista precisa trazer numa mão o jornal e na outra a Palavra de Deus. Precisamos estar em contato com duas fontes: a Bíblia e a realidade humana. Este método tem por finalidade educar para Ação-Reflexão, assim como fez Jesus, que se preocupou de educar seus discípulos para uma reflexão, partindo da vida (pobres, crianças, doentes, excluídos...).
COMO
TRABALHAR UM ENCONTRO
Para
melhor trabalhar o método de interação usa-se um procedimento, ou melhor, um
itinerário, que favorece o grande objetivo da catequese: “Para que todos tenham
vida e vida em abundância” (Jo 10, 10). Todo encontro parte da VIDA para chegar
a mais VIDA com novos compromissos e novas atitudes.
O
itinerário de um encontro, para muitos, é velho ou muito conhecido. Acontece
que existem muitos catequistas iniciantes e precisam estar seguros de como
proceder ao realizar algum encontro. Vejamos agora, parte por parte da dinâmica
metodológica de um encontro: ACOLHIDA, VER, JULGAR, CELEBRAR, AGIR, AVALIAR.
a)
Acolhida: é a
sala de visita do encontro.
Pode ser
expressa de muitas formas: gestos, cantos, símbolos, surpresas. É importante
que todo catequizando encontre sempre um ambiente acolhedor, fraterno amigo.
Seja reconhecido na sua individualidade, chamando-o pelo nome. Todo
participante que se sente aceito e amado, participará com mais alegria e
motivação.
b) Olhar
a vida, ou ver
a realidade (Ver).
Suscita a
capacidade para a sensibilidade, consciência crítica, perceber com o coração e
a inteligência aquilo que se passa ao redor. Não é só olhar a realidade
superficialmente, mas possibilitar o aprofundamento de fatos, causas,
conseqüências do sistema social, econômico-político e cultural dos problemas. O
olhar a vida é o momento de ver o chão onde vivemos e de preparar o terreno da
realidade para depois jogar a semente da Palavra de Deus. A parte do ver pode
ser concretizada através de desenhos, visitas, entrevistas, histórias e fatos
contados, notícias, figuras, fitas de vídeo, dramatização.
c)
Iluminar a vida com a Palavra (Julgar).
A partir
da vida apresentamos a Palavra de Deus. Podemos compará-lo com a luz existente
dentro de casa. Ela ilumina todo o ambiente isto é, nos mostra qual a vontade
de Deus em relação à vida das pessoas, seus sonhos, necessidades, valores,
esperanças. Fazemos um confronto com as exigências da fé anunciadas por Jesus
Cristo, diante da realidade refletida. Dentro do julgar também colocamos o
Aprofundamento da Palavra. Nesta parte aumentamos a luminosidade da casa para
poder enxergar melhor.
É a hora
que refletimos com o grupo para fazer uma ligação mais aprofundada da Palavra
com a vida do dia-a-dia e perceber os apelos que Deus nos faz. Pode-se
perguntar: O que a Palavra de Deus diz para a nossa vida? Sobre o que nos chama
atenção? O que precisamos mudar? Que apelos a Palavra faz para mim e para nós?
O aprofundamento pode ser feito ainda com encenações, dinâmicas, cantos,
símbolos.
d) Celebrar a Fé e a Vida.
É um
momento muito forte. É como se estivéssemos ao redor de uma mesa com um
convidado especial. O celebrar é como saborear em conjunto na alegria, ou no
perdão, algo que nos alimenta porque nos dirigimos, nos aproximamos do
convidado especial, que é Deus. A celebração não deve ficar apenas na oração
decorada. Os catequizandos aprenderão a conversar naturalmente com Deus como um
amigo íntimo. É importante diversificar a oração usando símbolos, cantos,
gestos, salmos, silêncio, frases bíblicas repetidas, relacionando sempre ao
tema estudado e com a vida. A partir das celebrações dos encontros é possível
motivar os catequizandos na participação das celebrações, cultos, novenas,
grupos de reflexão.
e)
Assumir ações práticas.
Todo
encontro precisa conscientizar que ser cristão não é ficar de braços cruzados,
e nem ficar passivo diante da realidade. Trata-se de encontrar passos concretos
de mudança das situações onde a dignidade é ferida, a partir de critérios
cristãos. O agir é transformador e comprometedor. Está ligado à vida e à
Palavra de Deus que questionam e exigem a mudança nas pessoas, famílias,
comunidade. Cada catequista necessita provocar o seu grupo para ações práticas.
É preciso respeitar cada faixa etária, mas não será impossível fazer algo
concreto. Os compromissos podem ser discutidos e assumidos de forma individual
ou grupal.
f)
Recordar o encontro.
Não se
trata aqui da aplicação de exercícios para decorar conceitos. O recordar nos
leva a ruminar o que foi refletido, aprofundado, trazendo à memória algo
essencial para ser fixado. A memorização é necessária sobretudo para conteúdos
básicos de nossa fé. Se for aplicada alguma atividade, que esta seja para
desenvolver o espírito comunitário de fraternidade, partilha, amizade e ajuda
mútua.Pode-se também pedir a ajuda para a família, sobre questões práticas.
g)
Guardar para vida.
Este
passo dá importância à Bíblia. Precisamos que nossos catequizandos tenham na
vida e na fala a Palavra de Deus. A partir do assunto tratado no encontro,
podemos usar uma ou duas frases, tiradas dos textos bíblicos usados que dão a
síntese do conteúdo, para serem compreendidas e vivenciadas. As frases poderão
ser escritas em papelógrafo ilustradas com desenhos, ou figuras e fixadas em
local para serem vistas e memorizadas.
h)
Avaliar.
A
avaliação ajuda a alegrar-se com as descobertas feitas, pelo que aconteceu de
bom. É ela também que faz verificar as falhas, corrigir o que não foi bom. Não
podemos ficar somente no que o catequizando “aprendeu”, isto é, se sabe os
mandamentos, sacramentos, mas é preciso avaliar as relações interpessoais, a responsabilidade,
o comprometimento, o assumir os valores evangélicos como: diálogo, partilha,
capacidade de perdoar, atitudes de fraternidade. A avaliação é um passo
precioso de crescimento. Ela faz parte de qualquer encontro.
São
muitas as formas de avaliar. Pode-se utilizar dinâmicas, debates, partilha em
grupo, individual, ou ainda, os próprios participantes escolhem alguém que no
final do encontro poderá dar a sua opinião. A grande fonte de avaliação é a
observação atenta do que ocorre durante o processo catequético. Portanto, a
avaliação não é só olhada dentro de quatro paredes, mas envolve a vida toda.
Parece
simples preparar um encontro, mas, como vemos, exige do(a) catequista
dedicação, carinho e aprofundamento para tornar cada encontro, um espaço de
crescimento mútuo. Ao olharmos Jesus com seus apóstolos, veremos que seu método
também tinha estes passos. É só verificar algumas passagens, como a dos
discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) ou ainda o encontro com a Samaritana (Jo 4,
1-30) ou Zaqueu (Lc 19, 1-10). Qualquer ambiente era propício para
acolher-ensinar-aprender-conviver. Para Ele a importância estava nas pessoas.
Ir. Marlene Bertoldi
http://catequistasemformacao.blogspot.com.br/2014/01/o-encontro-de-catequese-e-sua-dinamica.html