Caro Irmão Pe. Edwaldo
Já faz muitos anos que temos nos encontrado nos mesmos caminhos, cruzado as mesmas pontes, navegado contra as mesmas correntes adversas e nos animado pelas mesmas paixões.
Sempre que me lembro de você, vejo-o em movimento, não um movimento qualquer , mas sim o de quem responde a um chamado, a fim de cumprir uma missão, ir ao encontro de irmãos carentes de fé ou de pão.
Algumas vezes com pressa porque a missão urge, outras vezes exigente porque a missão impõe, ou nervoso porque a missão esgota, ou tranqüilo pela missão cumprida.
Houve momentos em que nos sentamos à mesma mesa para a mesma parmegiana, e nem aí conseguimos nos descontrair completamente, sempre tínhamos que ter tempo para falar das coisas sérias. Esta paixão pelas coisas sérias nos tem perseguido a vida toda. A despeito disso, nunca nos deixamos vencer pela desilusão ou o ceticismo. Uma certa esperança carregada de teimosia nos tem conduzido até hoje.
Hoje você chega aos 80 anos, aonde acredito que também chegarei, mesmo a contra-gosto. Sabe como gostaria de vê-lo, nesta quinta-feira? Dando uma boa gargalhada. É assim que imagino um homem feliz de ter vivido 8 décadas de serviço fiel ao Reino de Deus. Gargalhando. Nada na vida é tão sério que não mereça uma girândola de gargalhadas. Deus andou brincando conosco, José Edwaldo, como só Ele sabe brincar . Brincou com nossos medos e dúvidas frente às exigências deste mundo. Brincou com nossas justas rebeldias e nossas obediências compulsórias. Brincou com a nossa confusão na hora de escolher o Evangelho em vez do Direito Canônico, ou a Verdade em lugar das conveniências. Brincou com o nosso amor gratuito e conflitivo pela sua Igreja. Brincou conosco para nos fazer compreender o seu desígnio: a nós só cabe plantar , regar e zelar , mas a Colheita é Dele, a Vitória é Dele, o Banquete final é Dele.
De uma coisa, no entanto, tenho certeza: você tem um lugar garantido à mesa deste banquete de graças merecidas. E a brincadeira ainda não acabou. Deus lhe reserva todas as alegrias que você merece pela seriedade com que tem cumprido sua missão. Obrigado, obrigado pelo exemplo, obrigado por me mostrar a grandeza de ser homem e padre. Não importa quantos o sejam, um só basta para comprovar toda a grandeza humana.
Frei Aloísio Fragoso